quinta-feira, 6 de março de 2014

FPF, Nike e Ronaldo


É inegável o crescimento do prestígio da seleção portuguesa de futebol desde há mais de uma década para cá. As presenças consecutivas nos principais palcos do futebol mundial e o facto de reunir alguns dos melhores executantes que o planeta tem conhecido nos últimos tempos ajudaram a granjear um estatuto quase ímpar entre as grandes seleções.

Com esse reconhecimentos começaram a surgir as principais empresas (relacionadas com desporto ou não), desejosas de se associarem a uma organização, no caso a Federação Portuguesa de Futebol, que lhes permite uma ampla visibilidade, como em poucas atividades, dada a forte capacidade de penetração do futebol nas diferentes camadas da sociedade. E com isso beneficia igualmente o órgão que rege o futebol nacional, numa relação win-win. É aqui que entra a renovação do contrato entre FPF e Nike até 2018.

A parceria dura desde 1997 e, é preciso deixar claro, a data da primeira ligação não constitui um mero acaso. Depois de vários anos sem participar em fases finais de grandes competições, Portugal esteve presente no Europeu de 1996, onde foi uma agradável surpresa. Recheada de vários talentos que despontavam no futebol mundial, a seleção portuguesa ganhou notoriedade e transformou-se numa plataforma de visibilidade para quem a ela se associasse.

A reputação da nossa seleção foi ganhando forma ao ponto de passar a ter nas suas fileiras os melhores do mundo, como Luís Figo e Cristiano Ronaldo. Duas marcas, com principal ênfase para a segunda, ao qual estão associados valores como qualidade futebolística, sucesso, dedicação mas também bem-estar e boa aparência. A Nike tem igualmente em Cristiano Ronaldo um dos seus baluartes e esse fator influenciou (para além dos bons resultados desportivos) a que a ligação com a FPF se mantenha pelo menos nos próximos quatro anos.

Mas é preciso pensar mais além. É do conhecido geral que uma eventual ausência de uma fase final significaria um rombo no orçamento da FPF. Mas, mais grave, seria uma debandada (ou revisão em baixa dos contratos) dos principais patrocinadores, como a Nike. E esse é um cenário tanto mais possível quanto os anos passam e CR7 acabe, um dia, por deixar os relvados.

Ao longo destes 17 anos, a FPF tem sabido contribuir para que a seleção se mantenha no topo e beneficiado igualmente da boa formação levada a cabo pelos clubes nacionais. Só por isso é que as suas finanças se mantêm equilibradas, ao contrário de muitas outras organizações no país.

Mas vai ser preciso continuar a ter figuras de primeira linha (atenção clubes!) e marcar presença nos Europeus e Mundiais para manter uma Nike por perto.

Aliás, quando Ronaldo se retirar (e o fim do contrato com a multinacional de equipamento desportivo terminará numa altura em que se prevê que o jogador esteja na curva descendente da carreira…), a FPF terá de saber como manter em alta os valores pagos pela Nike.

Pode parecer “peanuts”, essa expressão muito em voga, mas o facto de todas as seleções portuguesas, exceto a principal, darem prejuízo se não fossem os patrocínios é elucidativo da importância da questão. Isto de meter as bolas lá dentro ajuda, e de que maneira, a negociar qualquer tipo de contrato.

João Socorro Viegas

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